Viver no campo: a moda da pandemia virou tendência no pós-covid?

Procura de casas à venda subiu em 81% dos municípios com menos de 10 mil habitantes quatro anos depois da pandemia...
16 mai 2024 min de leitura
O modo de vida dos portugueses foi – e muito – moldado pela pandemia da Covid-19. Os confinamentos mostraram a importância de viver em casas com áreas maiores e com espaços ao ar livre. E o teletrabalho, que se massificou em 2020, criou a possibilidade de trabalhar à distância. Tudo isto acabou por criar uma tendência em Portugal: viver no campo, em contacto com a natureza e longe dos grandes centros urbanos. Até porque aqui as casas para comprar tendem a ser mais baratas. Mas será que esta tendência veio para ficar? Ao que tudo indica, sim (e até está reforçada): os dados do idealista/data revelam que a procura de casas à venda disparou em 81% dos concelhos com menos de 10 mil habitantes entre o início de 2020 e o arranque de 2024. E contam-se mesmo 48 municípios menos populosos do interior e ilhas onde o interesse em adquirir casa mais que duplicou neste período.

Procura de casas à venda no interior sai reforçada 4 anos depois do início da pandemia
Foi em março de 2020 que a Organização Mundial da Saúde declarou a presença da pandemia da Covid-19. Seguiram-se múltiplos confinamentos em Portugal, várias empresas com trabalhadores em layoff e outras a permitir que os profissionais exercessem funções em teletrabalho. O pedido nacional resumia-se em “Ficar em Casa”, a solução mais eficaz para evitar a transmissão do vírus SARS-CoV-2.

O tempo passado em casa multiplicou-se. E as famílias começaram a sentir falta de ter mais divisões em casa, como um escritório para teletrabalhar, por exemplo. De ter habitações com áreas de convívio maiores, mais espaços ao ar livre, como varandas, jardins ou terraços. Estas necessidades acabaram por moldar a procura de casas em Portugal, quer em termos de características da habitação (divisões, áreas e espaços exteriores), como também em termos de localização.

A massificação do teletrabalho durante a pandemia – e o facto de se tornar num novo modo de trabalho no longo prazo, conjugado até com idas ao escritório (trabalho híbrido)– abriu o leque de possibilidades às famílias que decidiram mudar de casa nesse período, já que passaram a considerar territórios longe dos centros urbanos, como Lisboa ou o Porto, onde comprar casa é mais caro. Os dados revelam que a procura de casas à venda aumentou em 66 dos 120 concelhos com menos de 10 mil habitantes com dados disponíveis (de um universo de 122) entre o início de 2020 e o arranque de 2021. E houve mesmo 25 concelhos menos populosos onde o interesse das famílias aumentou 75% ou mais.
Foi em Mêda, distrito da Guarda, e em Belmonte, distrito de Castelo Branco, onde a procura de casas para comprar mais subiu entre esses dois momentos, tendo mesmo quadruplicado. Nos municípios de Redondo, Vidigueira, Penela, Alvito, Vila Velha de Ródão e Ponta do Sol o interesse em adquirir habitação também mais que duplicou durante o primeiro ano da pandemia. Esta evolução colocou mesmo Mêda como o município com menos de 10 mil habitantes mais procurado para comprar casa no início de 2021.

25 municípios onde a procura de casas à venda disparou no 1.º ano da pandemia
Municípios com menos de 10 mil habitantes

Variação da procura entre 1T2020 e 1T2021(%)
Isto quer dizer que o interesse em viver no campo, rodeado de natureza e no sossego do interior do país disparou no primeiro ano da pandemia da Covid-19. Mas será que esta tendência na procura de casas veio para ficar? Quatro anos depois, esta moda de viver no campo parece ter saído reforçada, já que a procura de casas à venda disparou em 97 dos 120 concelhos com menos de 10 mil habitantes entre o início de 2020 e o arranque de 2024. E em 48 concelhos o interesse em comprar casa fora das grandes cidades mais que duplicou: foi o caso de Nisa, Santa Cruz das Flores, Porto Moniz, Vila do Bispo, Vila Velha de Ródão, Vila Nova de Poiares, Góis e Vila Nova de Paiva.

Em resultado desta evolução, o município de Santa Cruz das Flores, nos Açores, tornou-se no mais procurado de todos para comprar casa entre os concelhos menos populosos do país. Logo a seguir está Porto Moniz, Povoação, Nisa, Lajes das Flores e Nordeste. Em todos eles a procura de casas mais que duplicou em quatro anos.
Também salta à vista que 11 dos 25 municípios mais procurados para adquirir habitação em 2021 continuam a sê-lo no início de 2024, revela o idealista/data. São eles: Lajes das Flores, Viana do Alentejo, Redondo, Ferreira do Alentejo, Monchique, Alcoutim, Lajes do Pico, Arraiolos, Aljezur, Alandroal e Cuba.

25 municípios mais procurados para comprar casa no início de 2024
municípios com menos de 10 mil habitantes
Procura: número médio de contactos por anúncio
Variação da procura entre 1T2020 e 1T2024(%)




fonte: idealista/data
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